quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ao ler um jornal ou ao assistir um telejornal, não confunda moral com política

Eu sei que esse é o enésimo texto sobre a relação conflituosa entre Moral e Política. Mesmo assim, serei o centésimo primeiro a falar sobre o tema.
Sabe como é, eleição chegando, é comum à confusão entre Moral e Política. Mas não podemos confundir.
De acordo com o filósofo francês Sponville, a “moral não nos diz em quem votar, mas sim em quem não votar”. Portanto, se você vai votar na Marina Silva por ela ser evangélica, você está usando a sua moral para resolver algo que é do campo da política. Se você não vai votar na Marina por ela ser evangélica, saiba que estará agindo de forma correta.

Lembram-se do Caso Bill Clinton e Mônica Levinsky? Então, do ponto de vista político, qual foi o erro do Presidente Clinton? Ter feito sexo com a estagiária da Casa Branca, ou ter usado o espaço e o cargo público no qual foi eleito, para fazer sexo com a referida estagiária? Se escolher a segunda opção, agirá de forma correta.

Alguns veículos midiáticos e alguns jornalitas adoram fazer essa “confusão de ordens”, como diz Sponville. Devemos avaliar um político sobre o ponto de vista dos aspectos legais e não morais. Quando alguém diz que não gosta de um determinado político por ele ser feio, arrogante ou mulherengo, eu sinto muito, pois você é um canalha moralizador.

Vamos definir moral. Para Sponville, moral é:

“É o conjunto do que um indivíduo se impõe ou proíbe a si mesmo, não para, antes de mais nada,, aumentar sua felicidade ou seu bem-estar próprios, o que não passaria de egoísmo, mas para levar em conta os interesses ou os direitos do outro, mas para não ser um canalha, mas para permanecer fiel a certa idéia da humanidade e de si. A moral responde à pergunta; ‘O que devo fazer?’ É o conjunto dos meus deveres, em outras palavras, dos imperativos que reconheço legítimos – mesmo que, às vezes, como todo o mundo, eu os viole. É a lei que imponho a mim mesmo, ou que deveria me impor, independentemente do olhar do outro e de qualquer sanção ou recompensa esperadas”.

O objetivo da Moral é deixar de ser individual e se tornar coletiva, universal. “Os canalhas moralizadores são aqueles que, ao invés de pensarem em ‘O que eu devo ser”, se preocupam com “o que os políticos devem ser”. Se o Clinton traiu a sua esposa, do ponto de vista político, isso não me interessa. Agora, se ele utilizou de seu cargo como Presidente para trair sua esposa, ai sim, me interessa.

È comum encontrarmos reportagens relatando casos extraconjugais de políticos ou práticas privadas dos mesmos, como se fossem importantes para nós, eleitores. A discussão deveria ser outra: Será que ele utilizou a sua posição como político, para tais práticas? Será que, a cerveja que determinado político consome, o atrapalha em seu trabalho? Será que a sua religião, o atrapalha em seus julgamentos legais como legislador? Essa é que deveria ser a discussão quanto ao aspecto político e não as ações em si.

Então, quer dizer que os políticos devem ser sujeitos imorais? Claro que não. Só acredito que isso não deve interferir em nossos julgamentos políticos. Volto a ressaltar, se acredita que determinado político é imoral (um conceito particular e subjetivo), não vote nele. O que não pode acontecer é alguém votar em um determinado político por ele ser um sujeito moral.
Ao ler um jornal, ou ao assistir um determinado telejornal, não faça julgamentos morais acerca dos candidatos, caso queira votar nele. Procure no mesmo, competência política e administrativa e não se ele é bonito, legal ou católico.

Para entender melhor as diferenças entre Moral e Política, recomendo o excepcional livro “O Capitalismo é Moral?” de Amdre Comte Sponville.

5 comentários:

  1. Boa, Dani. Está é realmente uma questão mui complicada, pois o senso de moral é algo tão arraigado e espontâneo em nós - hipocrisia é da natureza humana - que só mesmo parando e refletindo sem papas na língua que podemos desvencilhar moral e política pra nos tornarmos melhores eleitores.

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  2. O Brasil é um bando de canalhas moralizadores.
    Ótimo texto.
    Só não concordo quando Sponville diz que não há sanção na moral, eu acredito que a sociedade pode sim punir moralmente determinadas pessoas. Não estou falando de uma sanção legal, mas por exemplo, VOU ME AFASTAR DAQUELE GAROTO PORQUE ELE NÃO É CATÓLICO, isso é uma sanção moral.

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  3. sim concordo, mas é uma sanção imposta por você e não pela sociedade.

    A moral é individual e a política é coletiva.

    Uma lei que legaliza o aborto por exemplo, não o torna um ato moral, apenas faz com que o ato não possa ser punido legalmente. Mas a sua consciência pode te punir pelo ato de forma moral.

    Obrigado pela visita, Januário
    Abraço

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  4. sim, concordo.
    Mas e quando a sociedade marginaliza determinado grupo, é uma sanção, não?
    Neste caso, estamos falando de ética e não mais moral?

    meu blog (http://foldingchair.tumblr.com/)

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  5. sim é verdade aliás, terei o maior prazer em ler o seu blog. Abraço

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