sexta-feira, 26 de março de 2010

A China, o Google e os valores culturais alheios

A China está em uma encruzilhada ou a mídia internacional nos faz pensar que esteja? Perdoem o trocadilho, mas o Império do Meio nunca esteve tão em cima do muro como agora. Estamos falando de uma potência que a cada 10 anos, desde 1978, duplica o seu PIB, graças a uma ditadura política baseada na meritocracia. Sim, fazer um país crescer economicamente é muito mais fácil em uma ditadura do que em uma democracia, isso é fato. Mas quem disse que a China não é democrática? A democracia é um ponto de vista. Parag Khanna diz que a Palavra democracia em Mandarim tem a mesma pronúncia e escrita que a palavra porco. É consenso geral que se a China, um dia quiser ser um país desenvolvido, terá de ser uma democracia, mas qual modelo de democracia será adotado? O modelo ocidental ou o modelo oriental confucionista?”Toss the dices!!!” como diz Thomas Friedman
Estamos assistindo recentemente a um embate entre uma empresa transnacional de sistemas de informação e os censores informacionais chineses. Nesta batalha não haverá vencedores ou perdedores, pelo menos, não como estamos acostumados a assistir em conflitos bélicos. A “Teoria da Dell para a prevenção de conflitos” como diz Friedman, tem funcionado de maneira eficaz para evitar esses conflitos.
Deng Xiaoping aliou suas teorias liberais a uma estrutura política socialista maoísta, criando um regime singular, para não dizer paradoxal, de Ditadura democrática. A Meritocracia garante aos chineses, ascensão política e econômica a qualquer pessoa no partido comunista e isso gera renovação governamental (que é o problema cubano), a permanência e obediência ao sistema comunista.
O sistema de saúde, educação e segurança (outras heranças maoístas), garantem a satisfação, ou pelo menos, o conformismo dos chineses rurais (80% da população). È como se todas as coisas boas deixadas pelo socialismo fossem mantidas e as ruins, fossem alteradas de acordo com a lógica de mercado. Outra característica fundamental é a religião-filosofia confucionista, que molda desde conceitos religiosos, até morais e éticos chineses, criando uma cultura do coletivo e do trabalho para o bem da nação. Esses ideais Han estão sendo transmitidos (a força ou não) aos chineses não Han de forma bastante incisiva.
Não adianta as “estrelas” ocidentais protestarem pela libertação do Tibete, daqui a algumas décadas, não existirão mais tibetanos, mas chineses de origem tibetana e eles terão ascensão política e econômica, que não vão se importar em ser chineses. A diplomacia chinesa não conquista territórios, os compra, mas deixando os antigos “donos” serem acionistas minoritários, o que é uma vantagem para um povo, pois melhor ganhar pouco do que nada.
O nosso problema é querer ver a China de acordo com nossos conceitos culturais e históricos. Ao nos revoltarmos com a censura chinesa ao Google, estamos ao mesmo tempo, certos e errados. Porque acreditamos que devemos exportar nossos valores morais para o mundo e fazer destes, valores éticos. Pergunte a alguém miserável se ele prefere ter acesso a um sistema de saúde e educacão de qualidade ou direito a assistir televisão e ler jornais? Há prioridades mais prioritárias e à medida que essas prioridades são supridas, surgem outras e assim segue. Não defendo a censura, mas em um países com desigualdades abissais como a China e nosso , é difícil definir quais são as prioridades de cada individuo. Alguns chineses sentem necessidade de livre acesso a informação, mas para outros, isso está tão longe de suas ambições que, chega a ser desumano.
Para concluir, leiam se possível, várias opiniões acerca deste tema e procure você mesmo chegar a uma consideração, mas não tente chegar a uma conclusão. Isso é impossível. Acreditem em mim, a dúvida é muito mais inspiradora que a certeza. È preferível à dúvida coletiva a certeza particular.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Mais mapas interessantes

Um cartograma que utiliza o mapa dos Estados Unidos como se fosse um sistema circulatório com o objetivo de mostrar o quanto é importante a reforma do sistema de saúde para os estadunidenses



 Quais são os países com o maior consumo de vinho tinto per capita do mundo




 E quem disse que não existem teorias panlusitanas?




 Como os ingleses veem o mundo?




Comparação territorial entre algumas das principais cidades do mundo


Mais no site www.strangemaps.wordpress.com

Meu vício no site Strange maps

Bem, devo assumir meu vício e admiração pelo site www.strangemaps.wordspress.com. È um site que mapeia tudo, de pessoas a objetos. Além disso, disponibiliza mapas históricos que, além de serem obras primas, são representações culturais de povos e suas maneiras de enxergar e avaliar o mundo.

Por exemplo: Quando os estadunidenses não entendem uma língua, eles dizem que a pessoa está falando grego para ela. Partindo desse argumento, eles elaboraram um fluxograma que demonstra para outros povos as línguas ininteligíveis e qual a analogia que os mesmos fazem com uma determinada linguagem. Eis a seguir o referido fluxograma:


Outro exemplo é o seguinte argumento: E se a Alemanha não existisse? Eis o mapa



Como os franceses enxergam o mundo?



Como na prática é o Estado palestino? Um arquipélago no meio do mar de areia




Recomendo o site para que possamos refletir e principalmente observar como os mapas contam histórias e são essenciais para entendermos o mundo em que vivemos

Acessem: strangemaps.wordpress.com

segunda-feira, 8 de março de 2010

Os racistas são os outros. A polêmica das cotas raciais e a hipocrisia alheia.

Não sou fã de Jean Paul Sartre. O filósofo francês sempre privilegiou a História como ciência, negligenciando a Geografia. Mas ele dizia que “o inferno são os outros” e essa frase se encaixa como uma luva em relação ao debate sobre as cotas raciais em universidades.

Durante a semana passada, muito se falou, mas pouco se refletiu sobre as cotas para negros em universidades públicas. A discussão ficou restrita ao passado, mas a um passado subjetivo. Se os negros foram molestados ou mantinham relações consensuais com os colonizadores não sei dizer, talvez ambos, mas em minha opinião, isso é perfumaria. Refletir o passado para não cometer os mesmos erros no presente é o clichê da história que ambos os lados parecem ter se esquecido.

Engraçado, mas o racista sempre é o outro. Há opiniões enfadonhas para não dizer patéticas sobre a escravidão no Brasil. Os radicais do movimento negro chegam a refutar gênios acadêmicos como Gilberto Freire e Joaquim Nabuco, pelo que ambos publicaram sobre a relação entre colonizado e colonizador, mesmo sabendo que o que foi dito é verdadeiro.

Já outros defensores da “tradicional elite branca do país” dizem que as cotas raciais irão fomentar os conflitos étnicos, que há muito tempo, não ocorrem no país.

A democracia é uma benção. A mesma permite que opiniões e pontos de vista sejam explicitados, mesmo que as pessoas que o fazem não tenham a mínima idéia do que estão dizendo.

Sabemos que o racismo é o principal ídolo do nacionalismo e tem suas raízes lá no historicamente distante Paleolítico. Hoje, é o principal combustível das teorias da conspiração e das teses reacionárias.

Mas, ao criar cotas raciais na Universidade, estamos estabelecendo uma política racista e discriminatória. Os “especialistas” dizem que é uma discriminação positiva. Mas, então temos um paradoxo. Mas, se é uma discriminação, como pode ser positiva?

Por outro lado, é claro que os pobres (em especial os negros pobres) têm uma participação muito menor nas universidades públicas e que isso deve ser de certa forma, combatido.

É um assunto complexo demais para ser tratado como um maniqueísmo ou como uma briga entre “raças”. Se realmente quisermos discutir e criar políticas públicas afirmativas sejam elas quais forem, devemos primeiramente olhar para nós mesmos.

Devemos reavaliar nossos racismos e nossas visões de mundo. Nossos preconceitos e evitar nossas discriminações.

Se esse país quer ser levado a sério, deve aprender a analisar o seu passado, mas com um prisma voltado para o presente, ou seja, discutir aquilo que for realmente importante para evitar que os erros sejam repetidos e os acertos sejam mantidos ou não.

Para terminar deixo um trecho da Música “Amazing” do Aerosmith, em homenagem ao retorno desta grande banda.

“Talvez a luz no fim do túnel seja você”