segunda-feira, 8 de março de 2010

Os racistas são os outros. A polêmica das cotas raciais e a hipocrisia alheia.

Não sou fã de Jean Paul Sartre. O filósofo francês sempre privilegiou a História como ciência, negligenciando a Geografia. Mas ele dizia que “o inferno são os outros” e essa frase se encaixa como uma luva em relação ao debate sobre as cotas raciais em universidades.

Durante a semana passada, muito se falou, mas pouco se refletiu sobre as cotas para negros em universidades públicas. A discussão ficou restrita ao passado, mas a um passado subjetivo. Se os negros foram molestados ou mantinham relações consensuais com os colonizadores não sei dizer, talvez ambos, mas em minha opinião, isso é perfumaria. Refletir o passado para não cometer os mesmos erros no presente é o clichê da história que ambos os lados parecem ter se esquecido.

Engraçado, mas o racista sempre é o outro. Há opiniões enfadonhas para não dizer patéticas sobre a escravidão no Brasil. Os radicais do movimento negro chegam a refutar gênios acadêmicos como Gilberto Freire e Joaquim Nabuco, pelo que ambos publicaram sobre a relação entre colonizado e colonizador, mesmo sabendo que o que foi dito é verdadeiro.

Já outros defensores da “tradicional elite branca do país” dizem que as cotas raciais irão fomentar os conflitos étnicos, que há muito tempo, não ocorrem no país.

A democracia é uma benção. A mesma permite que opiniões e pontos de vista sejam explicitados, mesmo que as pessoas que o fazem não tenham a mínima idéia do que estão dizendo.

Sabemos que o racismo é o principal ídolo do nacionalismo e tem suas raízes lá no historicamente distante Paleolítico. Hoje, é o principal combustível das teorias da conspiração e das teses reacionárias.

Mas, ao criar cotas raciais na Universidade, estamos estabelecendo uma política racista e discriminatória. Os “especialistas” dizem que é uma discriminação positiva. Mas, então temos um paradoxo. Mas, se é uma discriminação, como pode ser positiva?

Por outro lado, é claro que os pobres (em especial os negros pobres) têm uma participação muito menor nas universidades públicas e que isso deve ser de certa forma, combatido.

É um assunto complexo demais para ser tratado como um maniqueísmo ou como uma briga entre “raças”. Se realmente quisermos discutir e criar políticas públicas afirmativas sejam elas quais forem, devemos primeiramente olhar para nós mesmos.

Devemos reavaliar nossos racismos e nossas visões de mundo. Nossos preconceitos e evitar nossas discriminações.

Se esse país quer ser levado a sério, deve aprender a analisar o seu passado, mas com um prisma voltado para o presente, ou seja, discutir aquilo que for realmente importante para evitar que os erros sejam repetidos e os acertos sejam mantidos ou não.

Para terminar deixo um trecho da Música “Amazing” do Aerosmith, em homenagem ao retorno desta grande banda.

“Talvez a luz no fim do túnel seja você”

2 comentários:

  1. Isso mesmo, Dani! Muito já pensei e discuti a questão das cotas, acho que essencialmente elas são um contrasenso mesmo, mas acho que algo tem de ser feito. Talvez pudéssemos estabelecê-las por um período curto (cinco anos, por exemplo) e ao mesmo tempo por metas de melhora efetiva da educacão pública para o governo alcançar se quiser continuar com as cotas (o que é bom em termos de números). Se pusermos a cotas e deixarmos a coisa rolar, elas vão ficar e o país vai cair no acomodamento, e isso não podemos deixar. Enquanto estamos polemizando, pelo menos mantemos a chama viva.

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  2. O ideal é uma melhoria na base educacional, mas como esa medida é de longo prazo, devemos ter sim cotas, mas como você mesmo disse temporárias, e investindo na base educacional.

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