quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O filme "O clube" e a Igreja Católica entre Deus e o Diabo.


Ao final da exibição de “O Clube “, o novo filme do diretor chileno Pablo Larrain, uma frase vinha em looping na minha mente como uma espécie de mantra: “Se não existissem pobres, os santos não seriam necessários”. Essa frase foi proferida no início do longa por um personagem e define bem o papel dos padres na América Latina: a representatividade divina em meio as tragédias sociais do povo americano. E que tragédias!!


O filme se passa em uma cidade litorânea chilena e conta a história de padres e de uma suposta freira, que por algum motivo foram afastados de suas funções eclesiásticas. Vivem em uma espécie de retiro, onde só podem se comunicar entre si e passam o dia entre orações, refeições e treinando um cão de corrida para que participe de uma competição local. Tudo parece mudar graças a chegada de um padre, supostamente envolvido com casos de pedofilia e de uma de suas vítimas à cidade, que passa a persegui-lo de modo que o padre comete suicídio. Para investigar o ocorrido, um outro padre mais jovem e aparentemente de uma ala menos conservadora da Igreja, decide residir junto aos outros para confrontá-los perante seus pecados passados. Claramente se referindo ao novo momento da Igreja Católica (um dos personagens chega a definir o novo padre como “um franciscano” em uma clara referência ao novo Pontífice) o longa busca por meio da fotografia cinzenta e cheia de sombras, ressaltar a escuridão do caráter dos padres. Em determinados momentos, a câmera busca desenquadrar e tornar turva a ação que ocorre na narrativa- o que aliás é uma característica de Larrain também usada no seu outro filme,”No”- para enfatizar a perplexidade e confusão de suas ações passadas e atuais.
Na medida que a narrativa avança, vamos testemunhando as atrocidades cometidas por aqueles velhos padres. Em um grau de cinismo que beira o inacreditável, nenhum deles parece se arrepender de seus crimes. Pelo contrário, se vangloriam e até mesmo justificam os atos em nome “de Deus”. Confesso que em certos momentos, senti ânsia de vômito e tive repulsa ao que era narrado.
O longa busca acompanhar também o homem vítima dos abusos sexuais do padre suicida e sua sobrevivência em meio a cidade. Com traumas psicológicos latentes, o homem vive uma relação de amor e ódio com a religião e com seus traumas de criança. Em um determinado momento, ao se mostrar homossexual, ele confessa que o padre abusador foi o único a entender sua orientação e assim, demonstra claramente uma espécie de Síndrome de Estocolmo que impacta fortemente no espectador.
Outro destaque é o papel do jovem padre que chega a cidade para investigar seus companheiros. Um jovem  que inicialmente se apresenta como uma salvação a velha estrutura da Igreja, mas que aos poucos se mostra um defensor ferrenho da velha Igreja ao ponto de fazer qualquer coisa para preservar a honra da mesma.
Com uma boa reviravolta no final, o filme apesar de repugnante na temática, é didático na forma como a narrativa exibe e enfatiza todos os crimes cometidos pela Igreja Católica e sua tentativa de expurgar e de evitar trazer à tona toda a sujeira deixada debaixo do tapete. O longa é fundamental para que possamos repensar nossas Instituições religiosas e o quanto que as mesmas nos corrompem em nome de um Deus que não passa de um Diabo.Como bem diz o padre que treina o cachorro de corrida em um determinado momento da narrativa, “O cachorro se humaniza com meu treinamento”. De pronto, recebe como resposta do jovem padre “e ele animaliza você”.
Pude relacionar o final do filme a velha questão atual de que o Papa Francisco representa uma revolução para a Igreja.  Uma bobagem constantemente proferida e que não reflete a realidade. Mal comparando, seria como se você tivesse um chefe legal, inteligente, educado, que te respeita e te trata muito bem. A questão é que mesmo assim, ele continua seu chefe e no menor erro seu ou se aparecer alguém melhor, mais competente e menos custoso para a empresa, ele te demitirá do mesmo jeito. É assim o Papa. Ele representa algo maior e mais poderoso e que nada tem de libertador.

Um filme que não é prazeroso de assistir, mas essencial pela temática abordada.

Ps: reparem nos detalhes do figurino dos personagens, em especial ao do homem vítima dos abusos do padre suicida. 

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