domingo, 17 de julho de 2011

Incêndios: Um filme sobre a perda da Inocência

194893 FICHA TÉCNICA
Diretor: Denis Villeneuve
Elenco: Lubna Azabal, Mélissa Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette, Rémy Girard, Allen Altman
Produção: Kim McCraw, Luc Déry
Roteiro: Denis Villeneuve
Fotografia: André Turpin
Trilha Sonora: Grégoire Hetzel
Duração: 130 min.
Ano: 2010
País: Canadá
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Imovision
Estúdio: micro_scope
Classificação: 14 anos

1 + 1=1
Essa equação define a trama da grande produção canadense “Incêndios”.

     O filme tem início com uma cena emblemática. Mostra um grupo de jovens tendo seus cabelos raspados por uma espécie de milícia do Oriente Médio, evidenciando que são os jovens, por perderem a inocência, os mais afetados pela guerra na região. E essa será a tônica do filme; A inocência perdida. Depois de um corte seco, vemos um advogado e ex chefe de uma falecida mulher, imigrante libanesa radicada no Quebec, fazendo a leitura do testamento, frente a seus filhos gêmeos. Dentre os desejos pós-morte da matriarca, duas coisas intrigam seus filhos. A revelação de que tem um irmão e de que o pai deles, ainda se encontra vivo. Além disso, o testamento diz que a mãe só poderá ser enterrada de forma decente após seus filhos encontrarem o irmão e o pai, além de entregarem aos mesmos, cartas. A partir daí, partimos em uma missão sensacional e cheia de reviravoltas pelo passado da mãe, seja por flashbacks ou pela investigação de seus filhos pelo Líbano. Eis aqui, os grandes trunfos do filme; Primeiro, sua Montagem, que é ágil e sutil o suficiente a ponto de nos confundir entre a jornada da mãe e da filha. Ambas percorrem o mesmo trajeto em temporalidades diferentes de maneira bem orgânica, graças também, em segundo lugar, à belíssima Fotografia e Direção de Arte, que com pequenos detalhes, como o crucifixo carregado tanto pela mãe e pela filha, por exemplo, mas em tempos distintos, que nos evidencia a relação de fardo repassado como herança da mãe para a filha.
   E em terceiro lugar vem o roteiro que, muito bem construído em cima da pista (As cartas para o pai e o filho) e na recompensa (qual o conteúdo delas), cria uma narrativa que sempre nos mantém presos as reviravoltas construídas. Se por um ponto, a narrativa se mostra impossível, por outro, ela se revela apenas improvável, o que ao longo da projeção, acaba nos brindando com grandes ironias dramáticas (reparem na paixão dos gêmeos e da mãe por piscinas, frente aos “incêndios” e a aridez vivenciada pelos mesmos ao longo de suas vidas). O roteiro nomeia os atos narrativos a ponto de nos manter mais focado no enredo e em suas mudanças temporais, que facilita muito o entendimento da trama, mas sem deixá-la superficial e frágil.
Mas o grande destaque do filme é o arco dramático vivenciado pela mãe ao longo da narrativa. Se em um primeiro momento, não conseguimos definir bem a agonia sentida pela personagem, ao longo da projeção, passamos a compactuar com seus dramas e passamos a desconstruir sua vida. De uma mulher alegre e feliz, mesmo que vivendo na pobreza, passamos a presenciar suas torturas, desde a morte do seu amado, separação junto a seu filho, até a fatídica cena na piscina coletiva. Tudo isso em um cenário cercado pela injustiça e ódio étnico-religioso entre povos. Impressionante é o contraste da fotografia do filme ao retratar tanto o Líbano, quanto ao Canadá, de forma árida, sem vida e até mesmo com tons pastéis, mostrando que a tristeza a acompanha aonde quer que ela esteja.
Outra grande ironia dramática estabelecida pelo filme se refere à Equação 1+1=1. O professor da filha, que é matemática, lhe diz que ela precisa resolver a equação da sua vida para poder viver em paz. E eis que junto ao seu irmão, encontra a resolução ideal da mesma em sua vida. A grande questão que nos permeia após o fim do filme é como será agora a vida deles, diante das descobertas estabelecidas ao longo da narrativa?Os gêmeos que se mostram tão racionais no início do filme, sabem que a equação de suas vidas é tudo, menos racional. Quando conseguem resolver a equação e a narrativa encontra seu fim, nossa sensação é de abafamento, não só em relação a todo arco dramático percorrido, mas principalmente em relação ao futuro daquelas personagens.

 Eis o papel de um grande filme.  E evidencia a qualidade técnica do diretor Denis Villeneuve. Assistam!!!

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